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CADÁVERES - CAPÍTULO 6

  • Foto do escritor: LORY DARX
    LORY DARX
  • 1 de jan. de 2022
  • 6 min de leitura

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Enquanto ia pra casa de Da Vinci, eu fiz mil planos pra devolver o livro escondida, exatamente do mesmo jeito que "peguei", sem avisar, emprestado.

- Relíquia, hoje você vai me salvar! - disse pra égua que eu montava - aproveitei a bem o test drive pós cirurgia dela! - sem a carruagem com certeza vai ser mais fácil meu plano! Ja temos menos barulho, agora, so preciso pensar como ficaremos invisíveis! Tá fácil né amiga? - disse dando um carinho no dorso dela.


Relíquia era a égua da ex esposa de Francesco, meu marido - pensei- Deus a tenha! - falei alto e ate fiz um sinal da cruz só pra garantir - minha mãe dizia que não devemos usar nada de gente morta.

Será que coisa viva de gente morta também não pode? Na época não perguntei e agora mamãe já morreu!! - falei me divertindo pela lembrança

Quando eu era menina, minha mãe falava coisas pra mim que me tomaram dias de filosofia comigo mesma - ela dizia que se eu cutucasse muito meu nariz, furava. E toda vez que eu quisesse falar alguma coisa, em vez da minha voz eu soltaria um assobio! - Deus me livre ser a Stra Catota!!


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E rindo da cena que visualizei, percebi que já estávamos na porta da casa do Leonardo. O portão da frente estava escancarado. - estranho - falei.

E mais estranho ainda era que não havia nenhum empregado por perto. Nem uma única alma por ali.

Era a primeira vez que eu chegava na casa de Leonardo da Vinci e não havia ninguém na porta. Minha intuição gritou que alguma coisa estava errada.

Entrei devagar, haviam 3 carruagens na porta da frente do estúdio - uma da funerária, uma do banco e um carro que certamente era de algum religioso - cheio de dourado e cruz - Credo! Será que alguém morreu?


- Mas o que o banco estaria fazendo num velório? Será que veio pagar o caixão? - não... o banco não é nada caridoso, eu acho que vou entrar pelos fundos, assim, pela cozinha, vejo o que esta acontecendo e aproveito e já guardo o livro roubado na caixa de onde tirei. - ele nem deve ter notado a falta do livro - torci, tentando se otimista.

Deixei a Relíquia afastada da entrada dos fundos, achei que se eu me aproximasse demais com ela, quem quer que fosse que estivesse ali, perceberia minha chegada.


Me aproximei andando bem devagarinho, e parei atrás da moita mais próxima da casa. Olhei em volta, e não havia ninguém. Me aproximei mais - e na loucura, corri até o varal de roupas. Fiquei ali, atrás de um lençol que estava secando, por alguns minutos, até que tive a certeza que ninguém havia me visto. Então, eu arrisquei - e entrei na cozinha.


A porta que dava acesso ao estúdio estava entreaberta, e dava pra escutar um pouco da conversa, mas nem tudo. Parecia uma discussão, alguém falava alto tinha um sotaque carregado certamente era o dono da carruagem da igreja, pela entonação da voz dava pra perceber que esse se achava o superior.


- estão bem distraídos, melhor guardar logo esse livro - olhei pra mesa onde estava a caixa de prata e ela ainda estava lá. Igualzinha a antes. UFFA! - Escapei! - pensei e nas pontas dos pés fui até a mesa, tirei o livro de baixo da saia e guardei de volta na caixa - e respirei aliviada. Logo em seguida ouvi a voz de Leonardo. Ele estava alterado, era uma briga. Me aproximei da porta para ouvir melhor o que diziam.


Daí a coisa ficou pessoal. A próxima voz que falou eu conhecia muitíssimo bem, era a voz do excelentíssimo Sr meu marido.


- o que diabos Francesco faz aqui a essa hora com um padre e o coveiro a essa hora? Porque está falando nesse tom com Leonardo? - achei muito estranho, daí deduzi que ele deveria estar cumprindo ordens afinal veio com o carro do banco.

Mesmo assim não entendi - Francesco era um homem gentil. Até com os empregados. Mas também era ambicioso e fazia tudo que os Medici pediam


Entrou mais alguém no estúdio, estava respirando alto, parecia estar chegando de uma corrida. Então, o novo personagem dessa conversa misteriosa, esbaforido, disse:


- onde devo colocar o pacote, Sr?

- sr da vinci, como faremos então? O senhor vai aceitar nossa proposta ou vai enfrentar as acusações do bispo? - o crime que te acusam pode ser penalizado com a forca. Você está preparado para enfrentar a corte e a sociedade? - perguntou Francesco, meu marido.


- o que era aquilo? Aquele não parecia o homem com quem me casei - Leonardo era meu amigo, acima de tudo. E ele sabia muito bem - eu realmente não estava entendendo nada. Aí a voz ofegante disse, num tom impaciente

- como será senhor? O pacote é pesado. Posso deixar aqui mesmo?

- não - disse Da Vinci - Leve isso para o porão - é ali naquela porta - espere vou colocar a lamparina aqui para você não tropeçar na escada. São só 5 degraus, mas por favor tome cuidado. Não preciso de 2 cadáveres.


- CADAVERES?? - surtei tanto que falei alto.

- será que me eles ouviram? Burra! - me xinguei, e em pânico, segurei a respiração pra ouvir sem ser ouvida. Mas eu não consegui ouvir nada por uns minutos, meu coração estava batendo tão rápido, que eu conseguia ouvir o barulho meus próprios batimentos cardíacos.

A sensação de estar escondida sem respirar, pareceu um deja vu, mas naquele momento eu não consegui entender de onde aquela lembrança fantasmagórica vinha, eu precisava ficar atenta. Quando me acalmei um pouco, percebi que eles estavam murmurando. Dava pra ouvir a voz do Francesco e do tal padre cochichando, mas o Leonardo nada. Estava mudo.


VOLTEI A PENSAR NOS CADAVERES. Cadáveres?? Será que eu ouvi direito mesmo? - de repente me ocorreu que eu deveria sair dali, se tinha cadáver era melhor que ninguém desconfiasse que eu ouvi essa conversa - e enquanto pensava o que deveria fazer, Leonardo voltou a falar:

- Sr Bispo, o sr sabe bem o que eu penso do Deus católico . Me obrigar a contribuir assim é a prova de que minha teoria sobre a igreja e a Bíblia está absolutamente correta. - disse Leonardo - E se está, gostaria de saber pra quem o Sr e todos os católicos estão orando. Farei o que pediu, porque não tenho escolha. Mas caso os Srs voltem aqui, caso essa acusação que os srs fizeram sobre minha conduta íntima, e isso volte servir de argumento de chantagem, eu vou desmentir Jesus e a farsa sagrada católica nem que essa seja a ultima coisa que eu faça na vida, estamos entendidos?

- disse Leonardo - e se os srs me derem licença, eu preciso trabalhar - falou Da Vinci - inclusive Sr Francesco, se não quiser ter que se explicar em casa, sugiro que saia daqui agora mesmo, pois sua esposa já chegou , e deve entrar por essa porta em alguns minutos - completou Da Vinci.


- ele era corajoso. Jamais vi ninguém falar assim com um representante da igreja - como ele sabia que eu já havia chegado? - será que me ouvir dizer CADÁVERES?? - pensei. E antes de concluir o que estava pensando, fui interrompida pela voz do tal padre:

- o Sr tem ideia de com quem esta falando, sr Leonardo? - disse a voz autoritária com sotaque forçado de quem fala Latim e se acha o melhor.

Achei que aquela era a hora perfeita pra eu aparecer, então, ajeitei meu vestido, e entrei.

- Árvores! Que belas árvores tem nessa estrada - fingi estar distraída, e usei uma palavra que soasse parecido com cadáver, eu ainda não achava seguro que soubessem que escutei o que disseram.

Eu percebi que a minha presença Ali era um total inconveniente, todos eles estavam com a mesma cara que meus filhos faziam sempre que eu pegava eles fazendo coisas erradas

Aquilo era bem divertido! E eu ria por dentro, mas também estava curiosa e ansiosa para que todos ali saíssem , pra eu pudesse conversar com Leonardo - ele certamente me contará o que aconteceu aqui hoje - pensei e resolvi acelerar a saída deles fazendo perguntas: - mas me contem, estou curiosa, o que os senhores fazem aqui? esse é o horário que o Sr Leonardo é só meu! - disse com tom de brincadeira e olhei para Leonardo há tempo de ver no seu rosto um sorriso contido, só com um lado da boca - ele fazia muito isso!


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