Fazia calor aquele dia e a tarde prometia acabar com chuva então peguei meu guarda-chuvas novo, pq ele era o mais elegante, e combinava com a minha roupa e eu estava bem atrasada. Fiquei horas esperando o Alejandro pra irmos juntos para a faculdade fazer matrícula. Íamos perder o ônibus e pegar muita fila se ele atrasasse mais. - pensei já um pouco irritada.
Como se ouvisse a minha raiva, o ser surge do nada e grita: FLOFRIDA, CHEGUEI!
- Chegou! Gracias a la virgem! - pensei e corri pra encontrar com ele no portão. Foi sorte chegamos na hora exata em que o 37-14 Vila Rica parou no ponto de ônibus.
Sentamos nos últimos lugares disponíveis bem no meio do veículo e ao lado de um cara esquisito com um pote enorme de barro. Ele vestia uma camisa com um bordado nas costas: "Galeria Rivera" em letra de convite de casamento. - Que cafona! Pensei.
- Seriam as cinzas da vovó? Brinquei com Alejandro no meu melhor humor negro! Ele riu e disse que deveria ser uma naja pois o homem parecia um flautista encantador de serpentes, só faltava mesmo o figurino!
- Se ele te der o pote Frida, não faltará nada! - riu ele tirando sarro do fashion style da amiga.
E estávamos rindo e batendo papo, distraídos da vida, quando sentimos o tranco e o barulho e os vidros voando e eu voando.. tentei pensar enquanto caia mas não de tempo de desviar das ferragens do bonde no qual batemos.
Tudo aconteceu em slow motion tudo ao mesmo tempo eu olhei pro Alejandro e vi o pote de barro se abrir e enquanto a tampa acertava em cheio o nariz do meu amigo, uma nuvem dourada surgiu do pote.
E quanto parei de voar, estava toda dourada, numa moldura vermelha de bordas negras empalada na avenida da praça central.
E a cena toda ficou em preto e branco, eu estava com uma visão de raio x! E a moldura da minha visão foi se fechando num aspiral dourado que se torna negro. Havia também um barulho agudo insuportável, e eu só conseguia ouvir isso. Mais nada. Conforme o volume do som aumentava, a minha vista escurecia, até que tudo apagou.
E o silêncio surgiu do nada e o mundo ficou negro como a asa da graúna.
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